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Saiba Mais - Perguntas e Respostas

Cólicas do Lactente

 

    Este é um dos textos mais desafiadores para um pediatra escrever. 

    Eu poderia resumi-lo em uma linha: não sabemos as causas das cólicas, portanto, não sabemos tratá-las adequadamente. 

    Eu também poderia escrever páginas e páginas sobre inúmeras suposições sobre a real origem das cólicas, bem como formular incontáveis teorias sobre como os mais diversos tratamentos funcionam. 

    Acho que nenhuma das duas atitudes seria correta. A primeira frustraria a todos os pais que passam pela verdadeira “provação que é ter um filho com cólicas”. A segunda levantaria falsas esperanças a pais que procuram desesperadamente a cura para um problema tão incômodo. 

    Vamos primeiro caracterizar as cólicas do lactente: são episódios súbitos de choro, que surgem aparentemente sem explicação, e não respondem às medidas habituais de conforto. Para muitos, esta frase consegue resumir perfeitamente o que seus filhos estão passando. Outras características que podem nos ajudar a identificar as cólicas do lactente: elas ocorrem diariamente e em um horário preferencial, que muda de um bebê para outro (início da noite, de madrugada, à tarde); o timbre do choro do bebê é diferente dos outros “choros” que o bebê apresenta; iniciam-se tipicamente ao final do primeiro mês de vida e perduram, em geral, no máximo até o final do terceiro mês. 

    As cólicas são um dos problemas mais conhecidos dos pediatras, descritas há mais de um século em atendimentos pediátricos. Uma das primeiras publicações a respeito foi realizada em 1954, pelo Dr. Wessel, que caracterizava as cólicas pela regra dos 3: duram pelo menos 3 horas, ocorrem pelo menos 3 dias por semana, e desaparecem aos 3 meses de vida. 

   A verdadeira causa da cólica do lactente permanece incerta. As hipóteses mais aventadas são:

    1) imaturidade gastrintestinal: aumento do peristaltismo intestinal dos bebês, aumento de certos hormônios intestinais, excesso de gases intestinais.

   2) fatores psicológicos: temperamento mais colérico do bebê; ansiedade dos pais; problemas de relacionamento entre os pais; depressão materna neonatal.

    Algumas doenças também são relacionadas à maior incidência de cólicas do lactente, como alergia à proteína do leite de vaca, intolerância à lactose, doença do refluxo gastroesofágico...Entretanto, o nosso foco é na cólica do lactente pura, ou seja, aquele bebê lindo, que está engordando bastante, que mama bem, que passa 20 horas por dia sorrindo...mas que sofre, e faz todos à sua volta sofrerem, por algumas horas, todos os dias.

    Na verdade, a impressão que tenho é que todos os fatores têm sua contribuição para causar as cólicas do lactente. Cada um contribuindo um pouquinho fazem com que o bebê tenha tantas cólicas e chore tanto. E isso se torna uma bola de neve para os pais, que presenciam este sofrimento dia após dia, e ficam cada vez mais ansiosos e aflitos em busca de uma solução, e esta solução nunca aparece.

    É muito difícil saber qual a parcela de contribuição de cada fator para agravar as cólicas do bebê. Muitas vezes os mesmos pais têm um filho com muitas cólicas, e outro sem nenhuma cólica. Há inclusive descrição de gêmeos, trigêmeos em que um apresenta cólicas, outros não.

    Em termos terapêuticos, usamos artifícios farmacológicos e não farmacológicos para tentar amenizar as cólicas. O paracetamol (analgésico) e a simeticona ou dimeticona (antifisético - “anti gases”) são os mais usados. A Funchicórea era um medicamento fitoterápico muito utilizado no passado para alívio das cólicas, e ainda está disponível em farmácias. Existem formulações fitoterápicas importadas, a base de carvão ativado, como o Colic Calm. Recentemente, começou-se a usar suplementos de probióticos, visando modificar/melhorar a flora intestinal do bebê .

    Sobre os artifícios não farmacológicos temos as massagens na barriga do bebê, compressas mornas com almofadas ou fraldas e até mesmo acupuntura. 

    Na prática, cada família acaba descobrindo algo que consiga ao menos amenizar as cólicas.

    E depois de alguns meses o que acontece? As cólicas somem! Sim, é isso mesmo, elas desaparecem subitamente e nunca mais retornam. “Tô” falando sério, pode acreditar!

    Quem já passou por isso, neste momento do texto, está rindo sozinho e pensando: “poxa, é dessa maneira que ocorre, achei que iria ficar louco com as cólicas e, de repente, elas sumiram”.

    Quem está passando por isso, deve estar pensando: “não aguento mais nenhuma noite, vou ficar louco, isso não vai acabar nunca”. Pois é assim que todos os pais pensaram durante as cólicas do seu bebê. 

    Por fim, é importante ficar claro que ninguém tem culpa sobre o que está acontecendo. Nem o bebê, nem os pais. E nós pediatras temos de ser sinceros, as cólicas permanecem um enigma para a medicina e, haja vista o tempo que já se passou sem conseguir esclarecê-las, continuarão a ser este enigma por décadas. Por isso é importante ter um bom esclarecimento sobre o assunto, e procurar não se desesperarem, por mais difícil que isto pareça. É importante também saber que não há fórmula mágica, alguns bebês podem responder bem a algumas medidas, enquanto em outros elas podem ser totalmente ineficientes. 

 

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